Buracos negros e os perigos de lá cair
- baltasarcruz
- Mar 5, 2021
- 4 min read
Poderia acontecer a qualquer um. Seja numa calma caminhada espacial, ou no caminho para o trabalho, a qualquer altura todos nos deparamos com a pergunta "o que acontece quando caímos num buraco negro?". Mas antes demais temos de recapitular rapidamente: o que é um buraco negro?
O que é um buraco negro?
Como vimos no artigo passado (caso não tenham lido, recomendo que o leiam aqui) buracos negros proveem do colapso de estrelas gigantes. Estes objetos são tão densos que nada, nem mesmo a luz, consegue escapar se se aproximar demasiado. A "fronteira" a partir da qual nada consegue escapar da atração gravítica chama-se horizonte de eventos. A partir desta fronteira nada conseguimos ver, e tudo para além desta é um mistério.

Um buraco negro nunca é diretamente visto; Só pode ser observada a sua influência nos objetos á sua volta.
Bora atirar-nos
Mas imaginemos que temos uma vontade imparável de ver o que está atrás do horizonte de eventos, mesmo que nos custe a vida. Nesse caso é fácil, alugamos uma nave, vamos para o buraco negro mais próximo e atiramo-nos lá para dentro. Mas não vamos sozinhos, levamos um companheiro para nos observar a cair, porque alguém tem de levar a nave de volta ao á Terra. Vamos chamar a este sujeito Zé Carlos.
Para o Zé Carlos parece que cada vez caímos mais devagar até que a certa altura, mesmo antes de passarmos o horizonte de eventos, paramos totalmente. Depois lentamente tornar-nos-íamos avermelhados até que desaparecíamos (spooky, i know).

Para nós no entanto é altamente mais interessante. Porque á volta de um buraco negro o tempo corre muito mais lentamente (devido á forte gravidade), enquanto nos aproximamos mais e mais do buraco negro, o tempo fica cada vez mais lento para nós em relação ao exterior, de forma que quando passamos o horizonte de eventos já passaram triliões de anos no Universo "fora" do buraco negro. Não podemos observar isto, infelizmente, pois a luz desses eventos não teria tempo de chegar até nós.
Quando finalmente passamos o horizonte de eventos não podemos dizer nada com certezas. A única coisa que podemos dizer com certeza é que a maneira como a física funciona aqui dentro é completamente diferente da nossa. O espaço-tempo está de tal força distorcido que aqui dentro que espaço-tempo trocam de lugares - se pensarmos sobre isto um pouco faz todo o sentido: nós só experienciamos o tempo num sentido, em frente; quando caímos num buraco negro sentimos a mesma coisa espacialmente: voltar para trás é tão impossível como voltar para trás no tempo no Universo "normal".

É possível que pouco depois de passarmos o horizonte de eventos vaiamos embater com uma grande parede de fogo e sejamos queimados instantaneamente (a razão para a possível existência desta parede de fogo é complicada, por isso vou explicar no fim do artigo, para quem estiver curioso).

Caso o buraco negro em estejamos a cair seja "pequeno" (do ponto de vista astronómico) é provável que fossemos vitimas do que Dr. Neil DeGrasse Tyon chama de "espaguetificação" - consiste no facto de a força de gravidade exercida sobre os nossos pés ser tão mais forte que a exercida sobre a nossa cabeça que o nosso corpo seria esticado até fica da largura de um átomo (também não parece agradável , n'é?). No entanto se o buraco no qual caímos for grande o suficiente (o maior de todos tem um diâmetro 47 vezes maior que a distância de plutão ao Sol) poderíamos acabar por morrer á fome antes de chegarmos a algum sitio.
Como assim parede de fogo?
*Preparem-se para a introdução de temas que mereciam um artigo próprio (e mais tarde vão recebê-lo) mas vou explicar em poucas palavras.
Todos os buracos negros evaporam muito lentamente, devido a um processo chamado Radiação de Hawking. Esta radiação é ridiculamente lenta: para um buraco negro com a massa do nosso sol, levaria 10 000 biliões de biliões de biliões de biliões de biliões de biliões de anos para perder 0.0000001% da sua massa.

Esta radiação deve-se ao facto de que, em espaço vazio, a toda a hora aparecem e desaparecem partículas virtuais (um par de partícula- antipartícula que se anula quase instantaneamente após aparecer). No horizonte de eventos quando isto acontece, uma das partículas entra dentro do buraco negro e a outro sai; a partícula que sai "leva" consigo um pouco da massa do buraco negro. No entanto, esta mesma radiação cria um problema: a partícula que saiu não pode estar entrelaçada com a que entrou (fenómeno quântico que permite duas partículas estarem de tal forma ligadas que não podem ser descritas sem mencionar a outra; está é uma propriedade intrínseca a um par de partículas virtuais).

Em 2012 foi apresentada uma possível solução: o entrelaçamento é imediatamente quebrado após a separação das duas partículas. Esta separação libertaria uma quantidade enorme de energia, que criaria esta teórica "parede de fogo" no interior do buraco negro.
Bom eu não sei quanto a vocês leitores, mas eu estou a tirar um grande prazer de escrever sobre buracos negros, por isso é provável que os próximos abordem ou temas similares ou explicações mais detalhadas temas que referi mas foram pouco explorados neste artigo. Caso tenham outras sugestões façam o favor de comentar.
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